A implacável observação dos próprios pensamentos
Quando tudo para, o que grita na sua mente?
Essas últimas semanas têm sido desafiadoras para mim. Em um momento estava super bem, vivendo minha vida como amo: yoga, treinos na academia, disposição, noites bem dormidas, trabalho, reuniões incríveis. Noutro, uma bactéria (ou vírus qualquer) se instalou na minha glândula da tireoide e fez uma bagunça danada, causando uma tireoidite aguda com quadro de tireotoxicose que é uma “tempestade de hormônios” tireoidianos sendo liberada no corpo.
Com isso, meu corpo além de estar em hipertireoidismo (metabolismo suuuper acelerado), o que me fez perder 5 kg em 2 dias e mais 1 kg essa última semana, teve muitos sintomas desagradáveis como: taquicardia, diarreias, cansaço extremo, falta de ar, e o principal de todos → ENXAQUECA, mas de um tipo que eu nunca havia sentido nem nas minhas piores fases de falta de autocuidado.
Você pode estar se perguntando:
“mas o que isso tem a ver com a observação dos próprios pensamentos, Iara?”
Foi por esse evento que eu fui obrigada a parar voltar para dentro e me deparar com pensamentos enraizados que eu jurava ter conseguido cortar pela raíz. Eu só não contava que alguns desses pensamentos tinham raízes tão, tão profundas, que no máximo eu consegui adormecê-los, silenciá-los por um tempo, mas ao primeiro toque, eles acordaram.
O ayurveda fala que quando temos uma doença crônica, ela pode ser revertida, entrar no que chamamos de “remissão”, pela mudança no estilo de vida, eliminando as causas do adoecimento da nossa rotina. Porém, a partir do momento que voltamos a praticar essas causas, a doença pode também voltar a se manifestar, porque há uma memória física e mental. Há um padrão que precisa ser evitado para não haver repetição.
Se pensamos em uma pessoa que foi presa, por exemplo, de novo vemos isso ocorrer. Ela tem a chance de mudar, de não reincidir, contanto que ela mude seus hábitos, suas rotinas, suas companhias, seus ambientes. No primeiro momento que as circunstâncias que a fizeram tomar más decisões se repetirem, a chance de ela reincidir é iminente.
Com os pensamentos é assim também:
Você pode deixar de vê-los claramente e achar que passaram quando não se observa profundamente. Você pode silenciá-los quando suas rotinas, hábitos, ambientes e escolhas estiverem indo para o lado oposto à eles. Mas você não pode fugir quando, de repente, os medos que te aproximam dele voltam à tona. E é nesse momento que se esconde a maior riqueza da vida: CONHECER A TI MESMA, verdadeira e profundamente.
Ao me ver doente, sem poder exercitar como gosto, tendo que tomar medicação alopática, com menos energia, mais necessidade de sono… senti que estava trazendo de volta aquela Iara do passado, sempre mal, sem qualidade de vida, sem compromisso consigo, sem autoamor, para a minha vida.
Por alguns dias tive medo de me conectar demais com ela novamente e voltar a ter os mesmos hábitos. E, pasmem! Cheguei a tentar treinar com dor de cabeça forte e acordar super cedo, porque não queria de forma alguma me sentir como ela se sentia, pois isso - no meu pensamento (aquele que foi re-acionado pela doença) - me colocaria novamente lado a lado dela.
Só que é ai senhora, que entra a vantagem de ser alguém que se escuta, que sabe parar, que sabe se colocar presente e sensível na própria pele: não demorou muito e eu logo fui capaz de reconhecer esses pensamentos tóxicos e encontrar os padrões, os gatilhos, os pontos fracos.
Ver como a Iara “não 100% bem de saúde” e em “100% do estilo de vida que construiu para si” pensa e se comporta abriu um triplex na minha mente. Me mostrou minha alta disciplina e perfeccionismo, minha intolerância as mudanças bruscas de rotinas, minha necessidade de fazer as pazes com a Iara do passado (que só fazia o que fazia porque não tinha o menor conhecimento sobre os riscos e danos que estava se causando), e minha autocobrança.
Um baaaita choque no início? Claro.
Mas não vou mentir, nesse momento a alegria e gratidão que sinto por essa oportunidade de enxergar minhas sombras e poder ressignificá-las, é infinitamente maior que qualquer medo, resistência, trauma, chateação.
Eu só posso curar aquilo que eu conheço. Eu só posso ressignificar aquilo que entendo. E eu só posso evoluir naquilo que eu compreendo integralmente, nas partes boas e nas ruins.
E olha que ironia presente da vida. Na semana mais desafiadora do meu quadro atendi uma cliente que me disse:
“Uma amiga minha me falou que um dia eu agradecerei minha doença atual, porque vou perceber que ela me salvou.”
Essa cliente tem uma autocobrança muito alta, seu trabalho a exige demais, e - tendo muito ar em sua constituição (como eu) - ela não tem parada. Hoje, com o problema de saúde que enfrenta, teve que desacelerar um pouco, buscar ajuda terapêutica integral e psicológica, voltar a se escutar, se cuidar e - acima de tudo - a viver em sua própria pele com intenção e presença.
Ela foi clara em dizer:
“se não fosse isso eu teria postergado meu autocuidado por mais meses ou anos, e poderia ter desenvolvido algo muito pior que me pararia totalmente”.
Ou seja, essa cliente me disse exatamente o que eu precisava ouvir naquele momento. Deus a usou (ou o universo como preferir) para falar comigo e me mostrar que é só uma fase de mais aprendizado e lapidação.
Diante de todo esse “caos”, eu decidi encarar tudo como uma bênção, uma verdadeira oportunidade
. Aliás, esse é o nome dessa newsletter: “do caos à clareza”. E esse caos certamente veio para clarear muitas sombras que estavam escondidinhas.
Já pensou se você também encarasse dessa forma seus desafios?
Te convido, então, a fazer esse exercício, para finalizar essa newsletter com ação prática:
Se pergunte genuinamente:
o que posso aprender com esse desafio que estou enfrentando?
que parte de mim precisa ser olhada?
o que ele escancara sobre meus pensamentos, traumas, crenças?
qual o convite que a vida está me fazendo hoje?
Não faça esse exercício na correria, nem se aprofunde demais. Não tente responder tudo em um dia. Tudo tem seu tempo. Apenas deixe essas perguntas em local que acessa todos os dias e espere a vida te trazer as respostas. → Pode acreditar, quando nos colocamos na posição de aprendiz, ela nos responde.
Tenha uma semana abençoada, cheia de pensamentos e cercada de pessoas que te ajudem a encontrar suas respostas. Se eu for uma delas, não deixe de me contatar lá no instagram, vou adorar saber e conversar contigo.
Até a próxima!
Iara é mentora de mulheres e terapeuta integrativa, cristã, escritora, e host do podcast AYUCAST.
Seu lema de vida é: "a cura do seu corpo e da sua mente só acontecem quando você volta a morar dentro de si".
Seu trabalho se baseia em te acompanhar na sua jornada de reconexão com seu próprio corpo, te ensinando a ouvir e traduzir os sinais que ele dá para que não dependa de protocolos, regras ou palpites nunca mais.
A pergunta de ouro é: "você está na sua própria agenda?".
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