Que parte de você o Monte Rinjani arrastou?
Juliana, mesmo sem saber, ressignificou inúmeras trajetórias, inclusive a minha.
Essa semana o Brasil parou.
Todo brasileiro [humano], à sua maneira, dedicou um tempo para rezar, pedir, mandar boas energias, torcer, vibrar pelo resgate - com vida - de Juliana, a “garota” brasileira e as aspas serão bem explicadas mais adiante, que caiu e foi arrastada vulcão abaixo na última sexta-feira, na Indonésia.
Essa história não causou a comoção que causou, ao meu ver, à toa. Por mais triste que seja, nós brasileiros estamos bem acostumados a tragédias diárias, descaso de autoridades, violência, etc. Poderia ser só mais uma fatalidade, como a do balão que matou bem mais gente e, embora tenha causado comoção, foi bem menor.
Conversando com meu marido, que também se abalou, cheguei a conclusão de que - da minha parte - o que comoveu e causou um mal estar terrível generalizado, foi ver um ser humano, tão livre, tão feliz, tão cheio de vida e sonhos, de repente, sozinho, em meio a uma imensidão da natureza, frágil em meio a uma força sem igual que a arrastava, quase imóvel, de pernas dobradas, sem chão estável sobre si.
Ao ver repetidas vezes aquela imagem de drone dela ainda viva, todos nós nos pegamos em algum momento do dia imaginando o que ela estava pensando, sentido, falando a si mesma.
Será que ela estava com medo? Será que se sentiu abandonada? Será que tinha esperança no resgate? Será que ela falou com Deus? Será que ela agradeceu por ter vivido tudo o que viveu ou será que estava arrependida e preferia estar no sofá da sala segura?
Essas foram algumas das minhas perguntas e dos sentimentos que eu mesma experimentei e questionamentos que eu fiz a mim por longos 4 dias.
Olha que ironia: enquanto cada de um de nós olhava para aquele monte nas notícias, ele também estava olhando para cada um de nós.
(foto pessoal, tirada em dezembro de 2023, em Ushuaia - Patagônia Argentina. Uma trilha de cerca de 7h)
Eu vi comentários em posts sobre o assunto como: “ela procurou”, “não entendo a graça de arriscar à vida”, “que bom ser pobre e não ter dinheiro pra fazer essas babaquices” e por ai vai.
Na hora fiquei com raiva, mas logo entendi que essas pessoas não estão erradas, elas só estão enxergando com as suas próprias lentes sujas, riscadas, quebradas. Com seus pensamentos viciados, com suas almas enjauladas, incapazes de enxergar o princípio mais BÁSICO da vida: “para morrer, basta estar vivo!”
Então eu decidi parar com os comentários aleatórios e ler o que a própria Juliana falou durante a sua linda viagem à Ásia, porque ela nos deu o privilégio de poder fazer isso compartilhando suas experiências nas redes sociais. E por incrível que pareça, ela falou comigo através daqueles textos tão sinceros e cheios de vida. O que mais me impactou foi este, que respondeu todos os meus questionamentos:
minhas emoções esse mês foram como as curvas de ha giang. A viagem ao vietnã começou incrível, até que, na próxima curva, tive algumas crises de ansiedade e, logo na virada seguinte, vivi uma das melhores fases dessa aventura. Fazer uma viagem longa sozinha significa que o sentir vai sempre ser mais intenso e imprevisível do que a gente ta acostumado. E ta tudo bem. Nunca me senti tão viva.
Juliana Marins
Será que ela estava com medo? Óbvio, mas ela não deixou o medo falar mais alto do que os sonhos dela.
Ela se sentiu abandonada? Sozinha sim, abandonada acredito que não. Ela escolheu viajar sozinha para explorar sua própria vulnerabilidade e força e isso mostra que a pessoa mais importante nunca a abandonou: ela mesma.
Será que tinha esperança no resgate? Provavelmente, porque ela acreditava que logo após uma “crise” uma nova fase da aventura poderia vir.
Será que ela falou com Deus? Será que agradeceu por ter vivido tudo o que viveu ou será que estava arrependida e preferia estar no sofá da sala segura? Essas últimas ela respondeu em alto em bom tom: Nunca me senti tão viva.
Soco no estômago!
Viver significa correr riscos.
Viver de verdade, pressupõe ter coragem de fazer o que a maioria não faz.
Essa semana, após ler isso, eu criei para mim, para refletir, uma lista de perguntas tão profundas quanto o vazio que sentimos ao saber que Juliana encerrou sua jornada terrena:
O que me faz me sentir viva?
O quanto da minha própria vida eu realmente vivi hoje?
Eu estou gastando vida ou efetivamente vivendo?
A forma como eu vivo meus dias me agrada, me faz feliz?
Se hoje fosse meu último dia, eu estaria realizada e em paz com o que experienciei até então?
Os meus medos estão sendo maiores que os meus sonhos?
Eu tenho me acolhido e respeitado, ou tenho me abandonado?
Que aventuras, mudanças, loucuras eu estou me privando de viver por medo das consequências ou do que os outros irão pensar?
Mais uma ironia (ou sincronicidade, como diz minha psicóloga) da semana foi que escutei de uma mentorada: “eu tenho muito medo de me arrepender das minhas decisões”, e prontamente eu a respondi: “então você nunca vai viver de verdade, porque viver pressupõe fazer escolhas sem saber o que virá delas, e se arrepender as vezes”.
Fizeram a gente acreditar ao longo da vida que “arrependimento” é algo ruim, mas se você olhar a própria bíblia diz o contrário: o arrependimento abre as portas do céu, limpa nossas almas, redime nossos pecados, nos coloca mais perto do Pai.
Arrependimento é parte da vida. É parte do crescimento, da evolução, do aprendizado. Arrependimento é sinônimo de viver intensamente.
Juliana, uma mulher forte, decidida e corajosa, não uma simples garota abandonada no vulcão, viveu. E você?
PS: quem ama trilhas, natureza, e aventuras, sabe o quanto de liberdade e alegria reside em superar as limitações do corpo e os desafios do caminho para ver algo que ninguém mais pode ver, se não se permitir arriscar.
Se você ainda não me conhece, eu sou Iara Esturari, mentora de hábitos e ayurveda, terapeuta, escritora e host do podcast AYUcast.
Por acreditar que a chave para a saúde e o bem-estar é viver com menos regras e mais escolhas conscientes, eu guio
mulheres a traduzirem os sinais dos próprios corpos, construírem seus caminhos de cura, e sustentarem saúde com autonomia, no ritmo da vida real.
Minha pergunta para você é: "você está inteira na sua própria pele?".
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